Conheça a nossa História
1. Século 16
Origens
No século 16, o território de Ribeirão Pires era uma imensa floresta inabitada que fazia parte da aldeia tupiniquim de Geribatiba (do tupi, “lugar de muitas palmeiras”). O chefe dessa aldeia, que morava nas imediações do Rio Pinheiros, era o índio Caiubi, irmão de Tibiriçá. Com a chegada dos colonizadores portugueses, a Coroa determina a criação do sistema de sesmarias (divisão de terras). Com isso, o território de Ribeirão Pires passa a fazer parte dos domínios de Brás Cubas, que já tinha uma fazenda no lagamar de Santos (atual Ilha do Barnabé) e outra no atual bairro do Tatuapé, à beira do Rio Tietê. Ribeirão Pires não atraiu a atenção dos colonizadores e continuou sendo uma floresta inabitada devido às condições desfavoráveis da nossa região – umidade, frio, neblina e solo encharcado. Mesmo assim, devido ao fato de ser banhada pelo Rio Grande (em trajeto que hoje se encontra inundado pela Represa Billings), o nosso território serviu como rota de passagem à Vila de São Paulo dos Campos de Piratininga (atual São Paulo), pois uma das formas mais rápidas de se chegar à vila era navegando com canoas pelo Rio Grande até o Rio Pinheiros.
De floresta a cidade
Durante o século 16 até o início do século 18, os colonizadores buscavam lugares estratégicos e seguros para levantar vilas. A preferência era por lugares altos e de campos abertos, sem mata fechada, pois eram mais fáceis de fortificar e de antever os ataques dos chamados “índios contrários”, nome dado aos povos que resistiam contra a colonização e imposição da cultura portuguesa. Os índios confederados (Aimorés, Carijós, Guaianases, Teminimós, Tupinambás, e parte dos Tupiniquins) foram os maiores adversários dos portugueses durante a guerra conhecida como Confederação dos Tamoios (1554-1567).
Como o território de Ribeirão Pires era uma floresta densa, forrada de neblina e muito próxima aos domínios dos Tamoios, o risco de ataques era muito grande. Havia, ainda, o medo de ser capturado, preso e devorado em um ritual de antropofagia (prática comum entre os povos originários). Assim, os portugueses optaram por não colonizar o nosso território e levantar vilas em regiões mais abertas e menos florestadas. Daí a opção por formar as primeiras vilas em São Vicente, Santos e São Paulo, pois eram lugares notoriamente favoráveis à defesa dos colonos.
É somente no final do século XIX que Ribeirão Pires se tornará um distrito do antigo município de São Bernardo. A elevação a município ocorrerá no ano de 1953, passando a valer no dia 1º de janeiro de 1954.
O mito da Família Pires
O oficialismo histórico, na tentativa de engrandecer a origem da cidade, atribuiu incorretamente o nome do município de Ribeirão Pires à família Pires. Dizia-se que o Ribeirão Grande (principal córrego que corta o centro da cidade), seria o Ribeirão dos Pires. Na verdade, o Ribeirão dos Pires é um modesto córrego que nasce na região noroeste da cidade, daí a necessidade de fabricar algo grandioso, mítico. Esse mito surgiu em meados da década de 1970, quando os primeiros estudos revelaram que um mestre de campo, de nome Antônio Pires de Ávila, havia se estabelecido pela região no ano de 1716, após uma exploração de ouro em Mato Grosso. Porém, o sítio do militar ficava no atual município de Mauá, na divisa com Santo André, à beira do córrego Cassaquera, sendo impossível associá-lo aos atuais domínios de Ribeirão Pires.
O reduto dos Pires (família extensa que chegou ao Brasil na esquadra de Martim Afonso de Souza em 1532) sempre foi a Vila de São Paulo, mais precisamente o bairro da Penha. Antônio Pires de Ávila, que lá vivia por conta da atuação política de sua família frente à Câmara Municipal de São Paulo, construiu o mencionado sítio em Cassaquera, possivelmente com a finalidade de gerar bens agrícolas e outras riquezas em uma época de grande escassez causada pela febre do ouro.
E quanto ao mito? Como em muitas cidades do Brasil, o mito de origem assumiu o lugar de verdade histórica e muita gente na cidade acredita que Ribeirão Pires tem este nome por conta do bandeirante Antônio Pires de Ávila. O próprio hino da cidade reforça a lenda, tratando Antônio Pires como “pioneiro desta região, às margens do ribeirão”.
E a família Pires? Não se sabe exatamente que Pires teria dado nome à cidade e ao ribeirão que se tornou famoso. Pela ausência de documentos, talvez nunca seja possível encontrar o sujeito histórico que deu origem ao batismo.
2. Século 18
O Ciclo do Ouro
Com o fim da Confederação dos Tamoios no final do século 16, a aldeia de Geribatiba deixa de existir e os portugueses dominam todo o planalto vicentino. O território de Ribeirão Pires continuará ainda inabitado, preservando-se como floresta ao longo do século 17. A partir do século 18, já inserido no contexto do Ciclo do Ouro, o território gera o interesse de faisqueiros e garimpeiros devido à proximidade dos córregos e rios aluvionares que indicavam a presença do minério. Agora denominado Caguaçú (do tupi, mata úmida e grande), o território fica vinculado à Vila de São Paulo após intensa disputa com a cidade de Mogi das Cruzes, que também tinha interesse em incorporá-lo aos seus limites. O ouro e a prata causam uma febre exploratória jamais vista na capitania de São Paulo. Todos querem enriquecer no chamado Ciclo do Ouro.
No ano de 1677, visando marcar presença nesta região aurífera, a Vila de São Paulo nomeia Antônio Corrêa de Lemos, um bandeirante que morava na região da Sé, para o cargo de capitão-mor de Caguaçú. Entre as primeiras providências tomadas por Lemos estão a abertura de uma Estrada Real (que viria a se chamar Estrada do Pilar) – caminho esse muito utilizado por tropeiros – e um arraial nas proximidades do Ribeirão Grande, de modo a facilitar a exploração do ouro nos remansos do Taiaçupeba-Mirim. Apesar dos esforços, o ouro encontrado era muito fino e escasso, levando os garimpeiros a desistirem da região, sobretudo após saberem de notícias que indicavam a descoberta de grandes jazidas auríferas em Minas Gerais. O fato causa um grande êxodo de paulistas rumo àquela região e o bairro de Caguaçú é definitivamente abandonado.
A Capela do Pilar
Muito comum na psicologia dos bandeirantes era a fundação de capelas próximas aos arraiais auríferos. O motivo era o temor de morrer sem a expiação dos pecados, pois a vida que levavam frente à exploração de minérios era eivada de crimes. Nossa Senhora do Pilar, além de padroeira da Espanha, era considerada no Brasil a protetora dos bandeirantes paulistas, ao passo que Nossa Senhora da Piedade era a padroeira dos não-paulistas no contexto da Guerra dos Emboabas (1707-1709).
Por esta razão, acredita-se que o capitão-mor Antônio Corrêa de Lemos, um bandeirante paulista, teria ordenado aos seus escravos a construção da Capela de Nossa Senhora do Pilar como pagamento de uma promessa pela cura de uma doença que quase o matou. A data de sua fundação (25 de março de 1714), marca o surgimento do povoado do Pilar, que só tomaria esta denominação no século XIX ao ser incorporada à Freguesia da Sé.
Local: Rua Capitão-Mor Antônio Correa de Lemos, n.º 01
antiga Rua Alecrim
Pilar Velho – Ribeirão Pires (SP)
CEP: 09432-580
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3. Século 19
O Ciclo do Café e a ferrovia
No século XIX, a São Paulo Railway & Co. compra várias terras para a instalação da ferrovia. Em um de seus relatórios, a companhia cita a necessidade de construir pontes sobre o Ribeirão Pires e o Ribeirão Grande. O primeiro, localizado nas proximidades dos atuais bairros do Jardim do Mirante, Vila Suely e Bocaina e o segundo, nas imediações da atual Rua Capitão José Gallo. O nome “Ribeirão Pires” será gravado na história a partir da construção da primeira parada de trem, em 1885, então chamada de “Estação do Ribeirão Pires” – até essa data, a localidade era chamada de Pilar ou Caguaçú.
Povoamento e imigrações
Com a inauguração da parada de trem em 1885, a nascente vila de Ribeirão Pires começa a se preparar para receber os primeiros sitiantes. E assim acontece em fevereiro de 1887 com a fundação do Núcleo Colonial de Ribeirão Pires. Um ano depois, são enviados de São Bernardo os primeiros imigrantes italianos e o desenvolvimento local começa a se acentuar. Em 1895, visando atender a crescente demanda da vila, é iniciada a construção do novo prédio da estação, sendo inaugurado em 1 de janeiro de 1900. Do final do século XIX até a década de 1930, o povoamento de Ribeirão Pires se caracteriza pela chegada de diversas culturas imigrantes (alemães, italianos, sírios, japoneses). Essa troca cultural imprime uma dinâmica social e econômica que podemos chamar de primeira urbanização – marcada pelo surgimento dos primeiros melhoramentos urbanos (escola, correio, ruas, igreja, cartório, hotel etc.) e pelo intenso comércio de mercadorias primárias de origem agrícola, pecuária e mineral. Ribeirão Pires se beneficia intensamente da Economia Extrativa, sendo uma das principais fornecedoras de bens para a capital e baixada santista.
4. Século 20
Emancipação
A emancipação de Ribeirão Pires é um processo que decorre das transformações territoriais da região hoje denominada Grande ABC Paulista, à época chamada apenas de município de São Bernardo. Este processo começa em 1907, quando Ribeirão Pires perde seus domínios territoriais sobre a região do Alto da Serra, elevada a Distrito de Paz com o nome de Paranapiacaba. Junto com o Alto da Serra, saem de seu domínio as estações de Rio Grande (hoje Rio Grande da Serra) e Campo Grande. Em outubro de 1934, Ribeirão Pires perde a Estação do Pilar (atual estação de Mauá). Em novembro de 1938, o município de São Bernardo passa a se chamar Santo André e fundando, ao mesmo tempo, o município de São Bernardo do Campo. Em janeiro de 1939, Ribeirão Pires passa a ser distrito do município de Santo André. Uma década depois, “surge a SARP (Sociedade Amigos de Ribeirão Pires), que nos anos seguintes liderará o movimento pró-emancipação da cidade” [13]. O movimento cresce e se organiza de tal modo que “em 30 de abril (de 1953) é entregue à Assembleia Legislativa a representação que reivindica a elevação de Ribeirão Pires à condição de município”. Em 31 de dezembro de 1953, Ribeirão Pires, com cerca de 15 mil habitantes, emancipa-se do município de Santo André [14]. Em dezembro de 1963 é a vez do distrito de Icatuaçu (hoje município de Rio Grande da Serra) se desmembrar de Ribeirão Pires. Com a emancipação, começam a surgir os primeiros equipamentos públicos característicos de uma cidade: o Ginásio Estadual Dr. Felício Laurito é fundado em fevereiro de 1957. Em dezembro de 1963, a cidade é elevada a Comarca (o que lhe permite ter um Juiz de Direito na cidade). A comarca, no entanto, só começa a operar efetivamente a partir de 1967 após tramitação burocrática.
Consolidação urbana
Com a forte industrialização do Grande ABC Paulista iniciada pelo Plano de Metas de Juscelino Kubitschek no final da década de 1950, a abertura da Rodovia SP-31, a conclusão do desmonte do antigo Morro Santo Antônio (1976) e o surgimento do Centro Comercial (ou Centro Novo), Ribeirão Pires começa a ganhar contornos de cidade e entra em uma nova era, com a elevação do adensamento populacional e a formação de habitações justapostas entre si. Em março de 1971, inaugura-se o Paço Municipal Arthur Gonçalves de Souza Junior. Em março de 1972, a cidade ganha sua primeira e única biblioteca pública com o nome de Biblioteca Olavo Bilac. Em 1973, é instalada a Faculdade de Ciências e Letras de Ribeirão Pires. Em 1976, inaugura-se o Fórum de Ribeirão Pires. Em 1975, são finalmente iniciadas as obras de remoção do antigo Morro Santo Antônio para abertura do Centro Comercial. Com 50 mil habitantes, começam a surgir novos loteamentos e bairros e a ocupação começar a se tornar um problema para as administrações municipais [15]. Em novembro 1976, a Lei Estadual 1.1172 passa a classificar Ribeirão Pires como Área de Proteção e Recuperação de Mananciais, tornando obrigatória a preservação da Bacia Billings, Tamaduateí e Guaió. Em 6 de julho de 1986, Ribeirão Pires ganha o seu primeiro terminal rodoviário e a cidade se torna Município de Interesse Turístico.
Proteção dos mananciais
Após 20 anos da Lei de Proteção aos Mananciais (LPM), as bases da política municipal de sustentabilidade foram lançadas oficialmente durante o Fórum de Desenvolvimento Sustentado (FDS), realizado em abril de 1997, no Teatro Municipal Euclides Menato. Naquele momento, o Brasil estava prestes a completar cinco anos da realização da Eco-92 ou Rio-92, e vivia um momento de profunda discussão sobre os impactos acarretados pelo desenvolvimento não-planejado no meio ambiente. No âmbito nacional, o governo federal já começava a trabalhar na Agenda 21 Brasileira. Em Ribeirão Pires, algumas ações de conscientização foram realizadas anteriormente, como a I Semana Municipal de Meio Ambiente (1979), no entanto, a cidade carecia de um instrumento de maior alcance, capaz de apontar diretrizes para a preservação do meio ambiente nas próximas décadas. E foi isso o que aconteceu com a realização do FDS, que resultou em uma cartilha com informações históricas, indicadores econômicos, sociais e um diagnóstico detalhado dos cenários global, nacional e municipal, além de apontamentos para a ação governamental. Por se tratar de um documento lançado nos primeiros meses da Administração 1997-2000, que necessitava de indicadores, o FDS apresentou falhas provenientes da falta de conhecimento da real situação da máquina pública e do tamanho dos problemas do município. Essas falhas foram corrigidas em agosto de 2001, com a publicação da cartilha “Na Construção da Sustentabilidade”, que lançou oficialmente o Fórum da Cidade (FC)[16] ¬e realizou plenárias regionais e temáticas, envolvendo cerca de 800 pessoas[17]. Munido de mais informações, o Fórum da Cidade representou um aperfeiçoamento do FDS e trouxe como resultado a Agenda 21 Local (2003), uma das primeiras agendas municipais publicadas no Brasil após o lançamento da Agenda 21 Brasileira (2002). Com isso, a cidade despontou no começo do século XXI como uma das poucas a se preocupar com o desenvolvimento sustentável, seguindo as recomendações da Eco-92. Em 2004, obedecendo as determinações da Constituição Federal (Cap. II, art. 182) e do Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.2557/2001), a Prefeitura instituiu, dentro do prazo estipulado de cinco anos, o Plano Diretor de Ribeirão Pires, que revisou e substituiu os anteriores: Plano Diretor Integrado de Ribeirão Pires (PLADIRP), criado em 1995, e o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), de 1971. A diferença entre esses planos e o de 2004 foi exatamente a necessidade de adequá-lo ao que exigia a Constituição Federal, por meio da lei regulamentadora de 2001. Em 2009, houve a compatibilização do Plano Diretor com a Lei da Billings (Lei Estadual n.º 13.579/2009), que fundou regras específicas para a proteção e a recuperação dos mananciais da Represa Billings. Em 2014, o Plano Diretor foi revisado e ampliado, cumprindo o que determina o art. 39, §3º do Estatuto da Cidade.
Estância Turística
A conquista do título de Estância Turística (1998) representou uma batalha árdua – desde 1959 -, quando não uma possibilidade remota. O encadeamento de esforços, na esfera da legislação estadual e dos investimentos infra estruturais no município, foi preponderante para a sua realização. Contudo, para que este projeto se tornasse realizável, a cidade experimentaria um percurso de quatro décadas de espera e inúmeras proposituras fracassadas [18]. Após alcançar o título de Município de Interesse Turístico (MIT), em 1986, foi somente em dezembro de 1998, após oito proposituras, que a cidade constituiu como Estância Turística, evento este oficializado pela Lei Estadual 10.130, sancionada pelo governador Mário Covas a partir do Projeto de Lei 770/96, do deputado estadual Luiz Carlos da Silva. Com a Lei Complementar n.º 1.261/2015, a Prefeitura anunciou em 30 de agosto de 2017, o início da elaboração do Plano Diretor de Turismo, realizado sob supervisão técnica do SENAC (Serviço Nacional do Comércio), com entrega prevista para março de 2018. O Plano Diretor de Turismo é uma exigência prevista no art. 2º, item VI, da mencionada lei complementar.
Texto: Marcílio Duarte
Referências
DUARTE, Marcílio. Antônio Pires de Ávila: o militar. Revista Aqui, Ribeirão Pires, ed. 69, jun. 2017.
DUARTE, Marcílio. Uma cidade na serra: história e mito na evolução social de Ribeirão Pires. Santo André (SP): EdUFABC, 2022.
SANTOS, Wanderley. História de Ribeirão Pires. São Bernardo do Campo (SP): EdUFABC. 2017.
MÉDICI, Ademir. Vamos fazer tijolos? Informações e dicas sobre a formação étnica, social e urbana de Ribeirão Pires. Ribeirão Pires (SP): Apostilado, 1996.